Nomeação de Boulos para Ministério de Lula causa revolta interna no PSOL e expõe rachaduras na esquerda


A possível nomeação do deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) para o cargo de ministro da Secretaria-Geral da Presidência no governo Lula (PT) acendeu um incêndio político dentro do próprio PSOL e gerou desconforto entre aliados da esquerda mais radical. Com a debandada de partidos do centrão e até do PDT, cresce o sentimento de que o governo petista caminha para o naufrágio — e muitos não querem afundar junto.

Segundo apurações, Boulos deve substituir Márcio Macedo na Secretaria-Geral da Presidência. A movimentação ganhou força durante a viagem de Lula ao Uruguai para o funeral de José Mujica, da qual Boulos participou. O gesto foi lido como a consolidação de seu ingresso no primeiro escalão do governo federal.

Contudo, internamente, o PSOL avalia que essa nomeação fere a independência partidária e compromete a imagem da sigla como crítica à “colaboração de classes” — ou seja, alianças com o que consideram estruturas corrompidas pelo sistema capitalista. A revolta chegou a tal ponto que lideranças do partido passaram a exigir que Boulos se licencie do PSOL, sob o risco de desmoralização pública da legenda.

“O PSOL tem sido a vanguarda na luta contra a extrema direita e defende alianças táticas para impedir retrocessos. Mas para construir um projeto de esquerda real, o partido precisa manter sua independência do governo Lula”, disse uma resolução aprovada por ampla maioria da direção nacional do PSOL.

Rachaduras ideológicas e ofensas internas

A crise não é apenas institucional, mas também pessoal. Um dos episódios mais simbólicos da cisão envolve David Deccache, ex-integrante da corrente interna Revolução Solidária, ligada a Boulos. Ele denuncia que sua companheira foi expulsa do grupo por manter contato com ele, após críticas feitas por Deccache ao novo arcabouço fiscal do governo.

“Expulsaram sumariamente minha companheira sem qualquer explicação. Isso mostra o autoritarismo crescente no grupo liderado por Boulos”, afirmou. A alegação teria sido que o relacionamento causava “desconforto”, o que ele denunciou como machismo velado e comportamento autoritário.

Outros militantes também subiram o tom contra o deputado, acusando-o de “traição à causa” e chamando-o de “trotskista” — uma ofensa pesada nos círculos marxistas-leninistas mais ortodoxos, usada para designar traidores da revolução que se opõem à linha majoritária.

Boulos quer "dindim" e projeção nacional, dizem críticos

A leitura predominante entre os opositores internos é de que Boulos estaria mais interessado em capitalizar politicamente e financeiramente do que em manter coerência ideológica. Segundo fontes próximas ao PSOL, ele estaria de olho em recursos do governo federal e também em um possível "plano B" para suceder Lula na corrida presidencial de 2026.

Com a imagem de Lula cada vez mais desgastada, especialmente após o escândalo no INSS e a perda de apoio de partidos como PP, PSD, União Brasil e até o PDT, o petismo estaria tentando se reestruturar com nomes como Boulos ou Fernando Haddad para o futuro. No entanto, ambos são vistos como "esquerda demais" para os padrões do eleitorado médio brasileiro.

Conclusão

A nomeação de Boulos, se confirmada, pode significar mais um passo rumo ao isolamento político do governo Lula. O PT perde apoio no centro e vê até aliados históricos da esquerda radical se afastando por não quererem se associar ao que consideram um projeto em colapso.

O PSOL, por sua vez, corre o risco de implodir internamente se não conseguir lidar com a contradição entre sua base militante, que exige pureza ideológica, e suas lideranças mais pragmáticas, como Boulos, que vislumbram espaço no poder.

Se depender das vozes mais críticas, Boulos não terá apenas que deixar o PSOL — mas também levar consigo o rótulo de traidor da esquerda revolucionária. Para eles, o naufrágio do lulismo é inevitável. E ninguém quer ser o último a abandonar o navio.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Colunista e jornal Zero Hora são condenados a pagar R$ 600 mil por reportagem sobre salário de desembargadora — e agora a esquerda grita por liberdade de expressão

Porto Alegre, RS — A Justiça condenou a colunista Rosane de Oliveira e o jornal Zero Hora , do grupo RBS, a pagar uma indenização de R$ 600...