Após anos de tensões comerciais e sucessivos aumentos tarifários, os Estados Unidos e a China finalmente chegaram a um novo acordo comercial. Apesar da notícia soar positiva à primeira vista, o conteúdo do acordo aponta para um retorno à estaca zero, com tarifas base fixadas em 10% para ambos os lados — sem ganhos significativos para o povo americano e sem grandes concessões chinesas.
O presidente Donald Trump, que havia elevado tarifas sobre produtos chineses a níveis draconianos — chegando a anunciar tarifas de até 185% — agora recua e anuncia uma "pausa" na guerra comercial por 90 dias. A narrativa oficial da Casa Branca trata o movimento como um “reset total” nas relações com a China. No entanto, ao analisar os termos práticos do acordo, o que se vê é uma redução para as mesmas tarifas que vigoravam anteriormente: 10% em média. Ou seja, uma estratégia semelhante à adotada nos acordos com Canadá, México e Europa.
A tática de Trump parece seguir um padrão: inflar tarifas de forma extrema, criar pânico e incerteza nos mercados, e depois oferecer uma “solução negociada” que, no fundo, apenas retorna à normalidade anterior. Essa abordagem, inspirada em seu livro The Art of the Deal, tenta transformar o caos em vitória diplomática — ainda que quem pague o preço sejam os consumidores americanos.
De fato, como muitos analistas vêm apontando, essas tarifas adicionais são custeadas diretamente pelo povo dos Estados Unidos, na forma de preços mais altos. O governo, claro, arrecada mais com esses impostos, mas a população sofre o impacto no bolso, especialmente as classes mais baixas, que consomem produtos mais baratos, frequentemente importados.
Outro ponto polêmico foi o fim da isenção para importações de até US$ 800, que antes beneficiava milhões de americanos que compravam produtos de plataformas como Shein, Shopee e AliExpress. Agora, qualquer encomenda vinda da China (e de outros países) sofre tributação — uma política parecida com a adotada no Brasil sob o governo Lula, que também foi duramente criticado por isso.
Entre os detalhes do novo acordo, ficou estabelecida a suspensão das tarifas específicas impostas em abril sobre a China. Apenas a tarifa-base de 10% será mantida. Tarifa essa que, embora menor do que as ameaçadas anteriormente, ainda representa um imposto significativo para o comércio bilateral. A China também concordou em manter tarifas semelhantes, e ambos os países se comprometeram a retomar negociações para um novo pacto comercial nos próximos meses.
A bolsa de valores americana reagiu positivamente no primeiro momento, com alta de 2% no dia do anúncio. No entanto, o otimismo logo se dissipou à medida que analistas perceberam que o acordo não trouxe nenhuma vantagem estratégica real para os Estados Unidos — apenas alívio temporário.
Em termos geopolíticos, a notícia tem um lado favorável: reduz a probabilidade de uma recessão global mais profunda. Os conflitos comerciais estavam minando investimentos e gerando incertezas nas cadeias de suprimento internacionais. Agora, com a pausa anunciada, espera-se uma leve recuperação do comércio e uma retomada gradual da confiança nos mercados.
Outro ponto diplomático importante é o recuo da China em sua aproximação com a Rússia. Havia ameaças de Pequim aumentar seu apoio ao regime de Vladimir Putin na guerra da Ucrânia, mas o gesto de negociação com os EUA parece indicar uma tentativa de não romper de vez com o Ocidente.
A questão que permanece no ar é: qual era, de fato, o objetivo de Trump com toda essa escalada tarifária? Se era pressionar a China a fazer concessões, ele não conseguiu. Se era proteger a indústria americana, os resultados não são visíveis até agora. Se era arrecadar mais impostos, o preço foi a inflação nos produtos de consumo popular.
No fim, o acordo se resume a uma trégua temporária. O jogo ainda está em andamento. E, como sempre no xadrez geopolítico e comercial, quem paga a conta é o povo.
Deseja que eu também escreva uma versão opinativa baseada nessa mesma matéria?
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