Análise Explicativa: A proposta de Trump para reduzir o preço dos medicamentos em até 80% — e por que isso pode afetar o Brasil

 


Na tarde de 11 de maio de 2025, Donald Trump fez um anúncio bombástico na sua rede social Truth Social. O ex-presidente dos Estados Unidos afirmou que irá assinar uma ordem executiva nesta segunda-feira (12) para reduzir o preço dos medicamentos prescritos em até 80% nos Estados Unidos. A proposta, se efetivada, tem implicações profundas não apenas para o mercado norte-americano, mas também para o resto do mundo — inclusive o Brasil.

Mas o que, de fato, Trump propôs? E por que isso pode levar ao aumento dos preços de medicamentos no Brasil? Vamos analisar.


O conteúdo do "Truth" de Trump

No seu post, Trump criticou o fato de os medicamentos nos EUA serem frequentemente muito mais caros do que em outros países — até 10 vezes mais caros, segundo ele. Ele argumenta que esse custo elevado é injustificável, já que muitas vezes o mesmo remédio é produzido pela mesma empresa, na mesma fábrica, mas vendido mais barato no exterior.

Trump prometeu que, às 9h da manhã desta segunda-feira, irá assinar uma das ordens executivas “mais importantes da história”, instituindo uma nova política: os Estados Unidos só pagarão o mesmo valor que o país que comprar aquele medicamento pelo menor preço no mundo.

Esse princípio é chamado de “Most Favored Nation Pricing” — algo como “Preço da Nação Mais Favorecida” — e já havia sido cogitado por Trump em seu mandato anterior, mas nunca foi implementado. Agora, ele promete colocá-lo em vigor de fato, caso retorne à presidência.


O problema estrutural: por que os EUA pagam mais caro?

Historicamente, os Estados Unidos subsidiam o custo da inovação farmacêutica global. O país é o maior mercado do mundo, e empresas farmacêuticas contam com os lucros elevados obtidos lá para cobrir os altos custos de pesquisa e desenvolvimento (P&D) — que incluem não só o desenvolvimento dos medicamentos que chegam ao mercado, mas também os inúmeros que falham ao longo do processo.

Outros países, como o Brasil, impõem tabelamento ou acordos com a indústria farmacêutica para limitar os preços dos medicamentos. Um exemplo clássico foi a política adotada por José Serra no início dos anos 2000, que reduziu o custo de medicamentos essenciais no Brasil. Como resultado, os mesmos remédios são vendidos a preços muito mais baixos em países com menor poder aquisitivo — uma estratégia que as farmacêuticas aceitam porque conseguem compensar esses preços mais baixos com lucros maiores nos EUA.


O que muda com a proposta de Trump?

Se Trump for bem-sucedido em implementar essa política, os EUA deixarão de pagar os preços mais altos do mundo e passarão a pagar o mesmo valor que o país com menor preço para aquele remédio. Isso cria um efeito dominó:

  1. As farmacêuticas verão seus lucros nos EUA despencarem, pois terão que vender ao governo americano com base nos preços mais baixos praticados no mundo.

  2. Para compensar essa perda, as empresas terão duas saídas:

    • Aumentar os preços nos países que hoje pagam menos, como o Brasil, a Índia ou países africanos.

    • Suspender a venda desses medicamentos em mercados de menor lucro, o que poderia gerar escassez ou retirada de remédios de prateleiras em países mais pobres.


Por que isso pode impactar diretamente o Brasil?

Como o Brasil está entre os países que praticam preços mais baixos devido a regulações e políticas públicas, há o risco real de que os preços sejam elevados artificialmente pelas farmacêuticas para evitar que o preço mais barato daqui sirva de base para o mercado americano.

Se o preço do medicamento no Brasil servir de referência para o que será pago pelos EUA, as empresas terão um forte incentivo para aumentar os preços aqui também — ou até mesmo suspender a comercialização em solo brasileiro para proteger os lucros no seu principal mercado.


Considerações finais

Embora a proposta de Trump tenha apelo político — principalmente entre eleitores preocupados com os custos de saúde nos EUA —, ela não ataca a raiz do problema estrutural: a forma como se financia a inovação farmacêutica no mundo. Transferir o ônus do alto custo dos remédios para países com menor poder aquisitivo pode agravar desigualdades no acesso a medicamentos essenciais.

Além disso, ainda não se sabe se Trump conseguirá implementar essa política de forma legal e eficaz, já que ordens executivas podem ser contestadas judicialmente ou revertidas por futuros presidentes.

De toda forma, a simples promessa de colocar essa política em prática já gera instabilidade e preocupação global — inclusive no Brasil, que pode ver os efeitos colaterais de uma política pensada para os americanos, mas com impacto global.


Deseja que eu inclua um gráfico comparando preços médios de medicamentos entre Brasil e EUA como ilustração?

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