Senado Aprova Regras para Uso da Inteligência Artificial: Texto Segue para Câmara dos Deputados



Em uma sessão histórica, o Plenário do Senado Federal aprovou, nesta terça-feira (10), o marco regulatório para o uso de Inteligência Artificial (IA) no Brasil. O projeto agora segue para apreciação da Câmara dos Deputados, onde poderá passar por modificações antes de ser aprovado definitivamente e sancionado pelo presidente da República.

O Projeto de Lei nº 2.338/2023 estabelece diretrizes fundamentais para o desenvolvimento e uso de tecnologias de IA no Brasil, com o objetivo de garantir que sua implementação seja segura, ética e em conformidade com os direitos humanos. O texto tem sido aguardado com grande expectativa no país, especialmente diante do crescente impacto da IA em diversas esferas da sociedade, da economia e da política.

Princípios Fundamentais

O projeto define princípios que devem orientar o uso de IA em território nacional. Entre eles, destacam-se a transparência, a segurança, a confiabilidade e a ética. A proposta também enfatiza a importância de combater discriminação e vieses que possam surgir no desenvolvimento desses sistemas, respeitando os direitos humanos e os valores democráticos.

Além disso, o texto propõe que a inovação tecnológica seja incentivada, assim como a livre concorrência e a livre iniciativa, sempre que possível. Tais diretrizes visam garantir que o desenvolvimento da IA no Brasil seja orientado para o bem comum, com atenção especial à preservação dos direitos fundamentais da população.

Sistemas de Alto Risco

O projeto de lei inclui uma importante regulamentação sobre os chamados “sistemas de alto risco”, aqueles que podem causar danos substanciais à saúde, segurança ou outros direitos fundamentais da sociedade. Exemplos de sistemas de IA considerados de alto risco são os usados para o controle de trânsito, redes de abastecimento de água e eletricidade, e sistemas aplicados na educação, para definir o acesso a instituições de ensino ou monitoramento de estudantes.

Os sistemas utilizados no recrutamento de trabalhadores e na promoção dentro das empresas também são classificados como de alto risco, assim como aqueles voltados para a gestão de desempenho e comportamentos dos trabalhadores. Outra área crítica envolve a saúde, com IA usada no diagnóstico e no apoio a procedimentos médicos, além do desenvolvimento de veículos autônomos em espaços públicos.

Além disso, o projeto de lei considera alto risco sistemas de IA empregados em serviços públicos essenciais, como o corpo de bombeiros e os serviços médicos de emergência, bem como em processos judiciais, especialmente aqueles usados em investigações de crimes. A regulamentação também se preocupa com a proteção das liberdades individuais e do Estado Democrático de Direito, ao classificar como de alto risco sistemas de IA que possam ameaçar essas garantias.

Vedações Importantes

A proposta de marco regulatório também inclui vedações que visam proteger a sociedade contra abusos no uso da IA. O projeto proíbe, por exemplo, o desenvolvimento de sistemas de IA pelo Poder Público que possam classificar ou ranquear pessoas com base no comportamento social de maneira ilegítima ou desproporcional, como a aplicação de sistemas de IA para definir o acesso a bens, serviços ou políticas públicas.

Em uma medida voltada à proteção dos mais vulneráveis, o texto também veda a criação de tecnologias de IA que possam facilitar a exploração sexual de crianças e adolescentes, demonstrando a preocupação do legislativo com as implicações éticas da IA.

Desafios com as Big Techs

Durante a tramitação do projeto no Senado, um dos pontos mais polêmicos foi a retirada do dispositivo que considerava os sistemas de IA usados pelas grandes plataformas digitais – as chamadas "big techs" – como sistemas de alto risco. Essas plataformas, como Facebook, Google, Amazon e Twitter, utilizam IA para a produção, análise, recomendação e distribuição de conteúdos, o que levanta preocupações sobre a manipulação de informações e a violação de dados pessoais.

O relator do projeto, senador Eduardo Gomes (PL-TO), explicou que a retirada dessa parte do texto foi resultado de um acordo entre as bancadas, com o objetivo de garantir que o projeto avançasse na votação. A decisão gerou controvérsia, pois muitos especialistas alertam para o impacto negativo que as big techs podem ter sobre a privacidade e a disseminação de desinformação.

O Futuro da Regulação da IA no Brasil

Agora que o Senado aprovou o texto, a expectativa é que a Câmara dos Deputados também analise o projeto nos próximos meses. Caso seja aprovado sem grandes modificações, ele pode representar um marco para o Brasil no que diz respeito à regulação da IA, colocando o país na vanguarda da governança dessa tecnologia, ao mesmo tempo que tenta equilibrar inovação e proteção dos direitos individuais.

O debate sobre a regulação da Inteligência Artificial é global, com governos de diversos países tentando estabelecer normas claras para lidar com os avanços tecnológicos dessa área. O Brasil, com a aprovação do projeto de lei no Senado, sinaliza sua intenção de participar ativamente dessa discussão, buscando equilibrar o progresso com os valores democráticos e os direitos humanos.

O Senado já passou o primeiro passo importante, e agora a expectativa é de que o texto seja amplamente debatido e ajustado na Câmara, onde as implicações desse marco regulatório serão profundamente analisadas. Para o governo brasileiro, o desafio agora é garantir que a regulação da IA seja adequada ao contexto local, sem prejudicar o potencial de inovação e desenvolvimento tecnológico que o país precisa.

Conclusão

O projeto de marco regulatório para a Inteligência Artificial, aprovado pelo Senado, é um avanço significativo na forma como o Brasil se posiciona em relação às novas tecnologias. Ao definir princípios para o uso ético e seguro da IA, o texto busca garantir que a inovação não comprometa direitos fundamentais, ao mesmo tempo que protege a sociedade de potenciais riscos. Contudo, o debate sobre a inclusão das big techs e outras questões permanece aberto, e a decisão final ficará nas mãos da Câmara dos Deputados.

Esse projeto de lei não só representa uma tentativa de regulamentar a IA, mas também um reflexo das preocupações globais sobre o poder e os riscos dessa tecnologia emergente. O Brasil se coloca, assim, em uma posição estratégica para liderar discussões sobre a governança da IA em nível internacional.

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